8 de setembro de 2024
AGRICULTURA

Estratégias de planejamento garantem sucesso à produção de milho

GRÃOS

Cuidados importantes nos processos de colheita e pós-colheita asseguram a qualidade do grão e mantém mercado aquecido

Por Rosângela Porto

O milho é uma das principais culturas que impulsionam o agronegócio brasileiro. Por isso, planejar todo o processo de produção, incluindo a colheita e a pós-colheita é de extrema importância para garantir o sucesso da atividade.  

O agrônomo de desenvolvimento de mercado especialista da Bayer, Paulo Garollo, explica que o agricultor deve realizar o planejamento antecipado de todas as etapas que envolvem a colheita. “Entre as ações, uma das principais é a regulagem correta das máquinas, evitando, por exemplo, a quebra das espigas e a perda de grãos no campo, que podem se tornar um problema para o produtor. Chamado de “milho voluntário”, essa semente remanescente que cai no solo, atrapalha a safra seguinte e pode se tornar uma ponte verde para a cigarrinha do milho”, pontua.

Quanto à identificação do momento correto para se iniciar o processo de colheita, o produtor deve, primeiramente, se basear pelo ciclo dos materiais genéticos que foram plantados. Para isso, o melhor a se fazer é observar o momento em que o milho atinge a maturação fisiológica e começa a perder umidade, para que se possa iniciar o plano de definição da época de colheita. Entretanto, cabe ressaltar que há uma variação de tais características entre a primeira e a segunda safra. 

Paulo Garollo – agrônomo de desenvolvimento de mercado especialista da Bayer

“Para a colheita da primeira safra (verão), a recomendação é que o produtor comece quando o grão atingir um teor de umidade de 24%, pois assim ele terminará a colheita com 18% de umidade”, afirma Paulo Garollo. O especialista explica, ainda, que não é aconselhável que o cultivo permaneça por mais tempo no campo, já que o trabalho de retirada do milho primeira safra se dá em períodos de alta precipitação pluviométrica. Portanto, é mais difícil que o grão perca umidade. Além disso, outro ponto negativo que pode ocorrer quando há demora na colheita é a potencialização de problemas causados por fungos, que podem ocasionar a podridão da espiga, por meio da contaminação dos grãos. 

Já na segunda safra, a situação é diferente, visto que o período predominante para a colheita é o inverno, quando há uma intensa redução das chuvas em boa parte do País, bem como queda na umidade relativa do ar. “Neste cenário, o produtor até pode deixar para iniciar a colheita com 18% de umidade e terminar com 15%. Neste caso, o único fator abiótico é o vento, e o produtor pode escolher um híbrido com melhor qualidade de colmo para minimizar esse efeito”, pondera o engenheiro agrônomo.

Cesário Ramalho – presidente institucional da Abramilho

Outro ponto a ser considerado é em relação aos negócios. Por isso, é preciso que o produtor faça uma pesquisa quanto aos custos de produção, para que, assim, o resultado da colheita possa superá-los. “Neste sentido, é importante também fazer o hedge (cobertura) da atividade, ou seja, travar o preço de venda antecipadamente via bolsa, contratos, etc., que cubram os custos. E considerar sempre a contratação do seguro rural”, complementa o presidente institucional da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Cesario Ramalho.


Pós-colheita

Para garantir a eficácia dos cuidados durante a colheita, o produtor precisa se atentar quanto ao local de armazenagem dos grãos. Igualmente, o transporte deve ser analisado cuidadosamente, a fim de evitar perdas durante o trajeto da propriedade rural até a unidade armazenadora, onde o milho será entregue. Portanto, é preciso se atentar às filas de entrega, já que, caso haja demora na descarga, a qualidade do grão poderá ser prejudicada ao permanecer por mais tempo no caminhão. 

De acordo com Paulo Garollo, nas áreas de segunda safra, os agricultores que costumam armazenar o produto em silo-bolsa devem aguardar a umidade do grão baixar até 15% para iniciar a colheita. Isso porque esse modo de armazenagem não ocasiona perda de umidade por ventilação.  

Outro fator importante é que o momento de pós-colheita é ideal para que se faça o manejo de ervas daninhas. “Essa medida possibilita um melhor controle antes que elas se desenvolvam e deixem um banco de sementes no solo que atrapalhará o plantio da próxima cultura. Também é importante estar atento nas movimentações do mercado de commodities para fazer uma boa venda, já que é aí que ele realmente garante uma boa rentabilidade para o negócio”, comenta.

Adversidades

Os fatores abióticos são os maiores desafios desta safra. As chuvas intensas que ocorreram neste ano, especialmente no estado de São Paulo, parte do Centro-Oeste e Nordeste, acabaram dificultando a atividade de colheita, causando um atraso relevante no processo de retirada dos grãos, o que prejudica a qualidade do produto. 

Somado a isso, conforme explica Paulo Garollo, outro ponto desafiador é que, em decorrência desse impacto climático, as rodovias ficam mais abaladas pelo trânsito intenso de veículos que realizam o escoamento do grão. “Muitos produtores colhem em um mesmo intervalo de tempo, o que pode levar a um acúmulo de caminhões. No caso do milho, ainda há falta de armazenadores em algumas regiões do Brasil, um grande desafio que o agricultor pode atravessar nesta época”, esclarece.

Por sua vez, os custos de produção revelam-se como fatores que dificultam o processo. A alta nos preços dos insumos agrícolas, assim como dos combustíveis, da energia elétrica, dentre outros, intensificam os desafios enfrentados pelo produtor. “As cotações das commodities, com destaque para os grãos, estão interessantes neste momento, mas os gastos sobem em espiral. A rentabilidade depende cada vez mais do grau de profissionalismo que o produtor toca o seu negócio. Neste ciclo, o clima, que tem papel crucial nos resultados da agricultura, ganhou ainda mais peso. Produtores que tiveram suas lavouras severamente castigadas pelos eventos climáticos, certamente sofrerão mais do que aqueles situados em regiões com clima mais próximo da normalidade”, complementa Cesario Ramalho. 

Por outro lado, o mercado do milho continua aquecido e as perspectivas são positivas. Isso porque os estoques reguladores do produto não estão altos e alguns dos países compradores, como a China, por exemplo, têm mantido altas taxas de importação por conta do aumento no consumo. “A rentabilidade do milho tem sido uma das maiores dos últimos anos e isso acaba criando um desafio no pós-colheita, que é a sabedoria do produtor de como comercializar melhor. Neste cenário, o agricultor deve ficar muito atento aos movimentos do mercado, para que venda uma parte da mercadoria para quitar alguma dívida pendente ou alguma compra que tenha feito com prazo safra, enquanto outra parte possa ser usada para compras que, normalmente, não conseguiria pagando à vista, por exemplo. Comprar antecipado ou à vista acaba gerando uma condição melhor de negociação que pode ser interessante para o produtor”, aconselha Paulo Garollo.