Cigarrinha do milho e percevejo barriga-verde provocam grandes prejuízos às lavouras
SANIDADE VEGETAL
Paulo Garollo, especialista da Bayer para a cultura, explica como as pragas danificam as plantas e alerta para a necessidade de boas práticas de manejo no cultivo
O milho é um dos principais cereais produzidos no Brasil. De acordo com o 6º Levantamento de Safras da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a estimativa de produção para a safra 2022/23 é de 124,7 milhões de toneladas. Considerando-se, portanto, a importância da cultura, são necessários diversos cuidados, a fim de garantir resultados positivos em todos os processos envolvidos.
Um dos principais problemas que afetam o cultivo é a ocorrência de pragas, como a cigarrinha e o percevejo barriga-verde. O assunto foi abordado pelo agrônomo especialista de desenvolvimento de mercado da Bayer para a cultura do milho no Cerrado, Paulo Garollo, durante a 20ª edição da Tecnoshow Comigo, em Rio Verde (GO).
Em ambos os casos, as condições ideais para o desenvolvimento dos insetos é quando o clima está mais para quente, já que são pragas mais tropicalizadas. “Temperaturas entre 27 e 30 graus Celsius favorecem muito todo o processo reprodutivo da cigarrinha do milho e da evolução da própria população da praga. No caso do percevejo barriga-verde, ele também não gosta de temperatura muito fria e nem de muita umidade”, explica.
Quando há muita umidade, especialmente precipitação pluviométrica, a cigarrinha reduz o processo de migração. Assim, ela fica mais restrita àquela área em que ela já se encontrava. Por outro lado, quando se diminui a precipitação, normalmente há uma grande migração da praga para outras áreas. Entretanto, quando há registros de baixa umidade do ar e temperaturas muito elevadas, a cigarrinha se protege dentro do cartucho da planta de milho.
Por sua vez, condições de clima frio e de umidade são desfavoráveis para o percevejo barriga-verde. Em anos muito chuvosos, como este, em que a superfície da palhada permanece com água por algum tempo, os insetos se deslocam em busca de alimento somente no período mais quente do dia, ficando escondidos embaixo da palha.
“Esses insetos têm essa aparição somente nos horários que é conveniente para eles. O percevejo, por exemplo, gosta de tempos mais quentes, mas também não gosta de ficar exposto a temperaturas muito altas. Então, quando passa de 30, 32 graus Celsius, nenhuma das pragas é muito favorável. E aí elas também voltam a se esconder. O percevejo se esconde na palha e a cigarrinha vai para dentro do cartucho da planta de milho”, complementa Garollo.
Em termos de prejuízos para a lavoura, no caso do percevejo barriga-verde, primeiramente ele danifica o meristema apical da planta, ou seja, o ponto de crescimento. Ao atingir essa parte, o vegetal fica todo perfilhado e passa a gerar novas sementes dentro da mesma planta, mas nenhuma progride. Então, há uma redução no número de plantas produtivas.
Outro impacto é que todo inseto sugador realiza um processo de pré-digestão. “Ele tem que ir com estilete babando. E a baba do percevejo pode ser fitotóxica para a planta, ou seja, ela causa toxidez. Então, ele também começa a amarrar a planta, podendo ela, inclusive, também perfilhar e não ir para frente. Além disso, quando ele fura a planta, como ele procura o ponto de crescimento, a folha é pequena e fina. Assim, o percevejo fura a planta e na hora que ela expande, há orifícios sempre simétricos na folha, porque ela estava enrolada. À medida em que a folha expande, ela quebra, onde tem aqueles furos simétricos, diminuindo então a superfície de captura luminosa para fazer a fotossíntese. Então, automaticamente, o impacto também é na produção”, afirma Garollo.
Já a cigarrinha provoca um impacto diferente. Nesse caso, o inseto inocula os agentes causais (bactérias e vírus) quando está infectado. Esses agentes vão se desenvolvendo no floema, vaso que conduz açúcar para o grão, ocasionando o entupimento desse vaso. Com isso, o açúcar não consegue ir para o grão e, assim, o grão não enche, tornando-se um grão muito pequeno e leve, o que gera enormes perdas para o produtor.
De acordo com o especialista, outro prejuízo causado pela cigarrinha é quando ela repete o ciclo na fase mais adulta da planta, quando junta muita ninfa, uma vez que o agricultor para de realizar o manejo. “Os filhotes que estão fixados nas folhas do terço médio e baixeiro começam a matar as folhas de baixo. E isso acaba impulsionando, no colmo, que é uma estrutura de reserva, a particionar açúcar dele para colocar no grão. Com isso, automaticamente o colmo também morre antes da hora, tornando-se mais frágil e mais vulnerável ao vento. E como normalmente a época de colheita é uma época seca, que nós já vamos ter predominância de ventos fortes, então a vulnerabilidade se torna alta e nós começamos a ter muito problema de quebramento, perdendo produtividade por isso”, destaca.
Considerando-se todo o processo de desenvolvimento e de ataque das pragas nas plantas, é necessário que os produtores realizem cuidados simultâneos com o cultivo, uma vez que os insetos migram facilmente de uma propriedade agrícola para outra. “A falta de uniformidade nas boas práticas de manejo é que tem realmente trazido esses prejuízos, afirma Garollo.