21 de novembro de 2024
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Estudo aponta valores de referência para consumo de água em propriedades leiteiras

EFICIÊNCIA HÍDRICA

Gasto hídrico poderá ser visto para saber se está adequado ou se necessita de ajustes

Em celebração ao Dia Mundial da Água, a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e a Nestlé apresentam os primeiros dados de referência para o consumo de água na atividade leiteira nacional. Os resultados exclusivos proporcionam aos produtores de todo o país acesso aos dados que são padrão em indicadores de eficiência hídrica para o consumo de água de vacas em lactação e também lavagem de sala de ordenha (lavagem dos pisos, do equipamento de ordenha e do tanque de leite). Essas informações são diferenciadas de acordo com o sistema de produção utilizado pelo produtor, confinado, semiconfinado e a pasto. 

Em um sistema a pasto, as vacas em lactação bebem em torno de 64 litros de água ao dia. Já no semiconfinado, são 48 litros de água por vaca em lactação ao dia e 89 litros no confinado. Esse consumo das vacas em lactação é influenciado por sua produtividade de leite. A pasto, a produtividade média foi de 17,6 litros de leite por vaca ao dia. Já no confinado e semiconfinado o índice alcançado é de 25 e 14,4 litros diários, respectivamente. Assim, uma vaca em sistema confinado consome oito litros de água ao dia a mais do que uma vaca a pasto e produz uma quantidade maior de leite, 7,4 litros adicionais. Em relação ao consumo de água por litro de leite ao dia, os valores para os três modelos de produção variaram de 3,3 (a pasto) a 3,8 (confinado) litros de água por litro de leite ao dia.

Para a lavagem da sala da ordenha, os valores de referência foram 17 litros de água por vaca em lactação ao dia para os produtores que mantêm os animais no pasto, no semiconfinado e confinamento, foram 20 e 21 litros de água, respectivamente.

O estudo teve como referência o programa Boas Práticas Hídricas, desenvolvido pelas duas empresas, que oferece apoio às fazendas leiteiras e instalação de hidrômetros para ajudar a mensurar o consumo de água na produção. Foram analisadas cerca de 10 mil leituras dos hidrômetros de 1.200 produtores que fornecem leite para a Nestlé, no período de 2021 e 2022, dos estados de Goiás, Minas Gerais, Paraná e São Paulo.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste (SP) que avaliou os dados, Julio Palhares, para esse tipo de uso da água há grande variação entre as fazendas. “Enquanto a maior parte das propriedades em sistema semiconfinado consome 20 litros de água por vaca ao dia, há fazendas consumindo em torno de 55 litros. Nos locais onde o consumo é muito alto, os produtores devem se perguntar: por que estamos consumindo essa quantidade de água se outras fazendas consomem menos para o mesmo uso?”, observa Palhares.

O pesquisador diz que variação no valor do indicador ocorre porque esse tipo de uso da água é influenciado por vários aspectos, como: raspagem ou não do piso, utilização de água com ou sem pressão, mangueira com fechamento do fluxo hídrico, condição do piso da ordenha (rachaduras, buracos, etc.) e mão-de-obra capacitada.

Quando se fala em eficiência hídrica do produto leite, o confinamento foi o mais eficiente — um litro de água por litro de leite produzido ao dia. No semiconfinado, o consumo foi maior — 1,5 litros por litro de leite. No sistema a pasto, o valor foi de 1,2 para cada litro de leite produzido. 

Com esses valores, o produtor de leite pode saber se seu consumo de água está de acordo com os valores de referência. Se o gasto for além, o pecuarista não está sendo eficiente e, consequentemente, desperdiçando dinheiro. A notícia boa é que há uma lista de boas práticas para melhorar esses indicadores.

“Há cinco anos que o Programa Boas Práticas Hídricas contribui, de forma prática, para o desenvolvimento da nossa jornada de sustentabilidade no campo. A cada ano, novos índices de produtividade e eficiência são alcançados. O que antes parecia distante para a cadeia leiteira agora é uma realidade que supera os desafios em cada uma das milhares de fazendas leiteiras do nosso país”, explica Barbara Sollero, gerente de Milk Sourcing da Nestlé Brasil. 

Por meio do monitoramento mensal realizado com hidrômetros instalados em diversos locais de consumo nas propriedades, ao longo desses dois anos, foi possível analisar o volume total de água utilizado em cada propriedade. Esse trabalho foi realizado por profissionais da Embrapa e da Nestlé, que computaram os dados no aplicativo Leiteria, uma ferramenta que permite aos produtores fazer a documentação hídrica e inserir mensalmente as informações referentes ao consumo dos hidrômetros. Com isso, foi possível gerar os valores de referência.

Casos práticos

No grupo analisado existem extremos, tanto positivos como negativos. Um exemplo é um produtor na cidade de Lagoa dos Patos, Minas Gerais. Ele trabalha com sistema confinado. No uso para lavagem da sala de ordenha, o consumo foi de 79 litros de água por litros de leite ao dia. Já a quantidade de água por vaca em lactação ao dia foi de 1.133 litros. O consumo está muito acima dos valores de referência de um e 21 litros para cada um desses indicadores. No mesmo estado, na cidade de Serra do Salitre (MG), uma pecuarista consegue ser eficiente e mostra que é possível fazer melhor uso da água. A fazenda consome um litro de água por litro de leite ao dia, valor igual à referência, e 19 litros diários por vaca. Ou seja, ela é mais eficiente porque consome, diariamente, dois litros de água por vaca a menos que o referencial, que é 21. 

O fato atípico da propriedade de Lagoa dos Patos, segundo o pesquisador, pode ser um erro de anotação dos tipos de consumo medidos pelo hidrômetro. É possível que outros usos passem pelo hidrômetro, como irrigação, por exemplo. “Ele deve declarar algo que não é a realidade”, fala Palhares.

Outro produtor, agora no estado de São Paulo, que trabalha com as vacas no pasto, gasta 36 litros de água por vaca na lavagem, quando a referência é 17. Ou seja, ele consome mais que o dobro do valor referência. Além disso, usa 2,5 litros de água para cada litro de leite produzido diariamente. Nesse caso, não há problemas de anotação, mas de gestão hídrica. “É um indicativo de que há necessidade de adequação por parte do gestor da fazenda. É bem provável que exista falha na mão-de-obra, que não está capacitada, ou pode indicar que as vacas passam muito tempo na sala de ordenha, o que aumenta a quantidade de esterco a ser retirada”, acredita. 

O pesquisador alerta que não existe sistema hidricamente melhor, cada uso de água vai determinar se a propriedade está sendo eficiente ou não. O objetivo do trabalho é iniciar a geração desses valores de referência de indicadores do uso da água no Brasil. É uma ação contínua. “Esses não são os valores de referência definitivos. O banco de dados não está fechado, continua sendo alimentado mensalmente. Quanto mais informações, maior robustez das referências. Esses são os primeiros valores. Também iremos gerar referências para outros usos da água, como irrigação, residências, etc.”, esclarece Palhares. Esse é o primeiro banco de dados de uso da água em propriedades leiteiras que se tem no Brasil e um dos poucos no mundo. Os valores de referência irão auxiliar os produtores e o setor leiteiro para promover o melhor uso deste recurso natural finito e a atividade poderá mostrar para sociedade que produz leite com eficiência hídrica.

Fonte: Embrapa Pecuária Sudeste
Foto: Flickr